Essa
questão sobre o altruísmo ou o modelo ideal do que se pensa ser uma pessoa
altruísta é para mim, bastante relativa
O
altruísmo como “manifestação” do gene egoísta
O
altruísmo como ideologia utópica
O
altruísmo como tentativa de compensar as injustiças sociais promovidas pelo sistema capitalista
Mas
o altruísmo pode mesmo ser a melhor ferramenta de combate as injustiças?
Quando
vejo religiosos pregando o altruísmo é no sentido de recompensa no céu e quando
vejo agnósticos fazendo altruísmo é no sentido de ampliar o bem coletivo e de
alguma forma também se beneficiar(pois vivemos em sociedade e estamos de uma
forma ou de outra interconectados. No primeiro caso o altruísmo é egoísta e está
diretamente envolvido em um cinismo, onde perante uma platéia se aproveitando
de uma máscara social, que revela um sentimento de superioridade(veja eu estou
tão bem que posso ajudar) pregando uma caridade vertical sob uma máscara moral que
vem de cima para baixo sempre carregada de culpa, esse altruísmo cínico
geralmente é o preferido não só dos políticos
mas dos sacerdotes do sistema-judaico-cristão,e cai
por terra quando vemos os pedidos de $$$ nas igrejas, o patrimônio que elas
acumulam e a vida opulenta dos seus sacerdotes, pra não falar no verdadeiro
desfile de modas que pode ser observado nos trajes elegantes exibidos nos cultos,
pra não falar nos carros elegantes tanto dos pastores quanto dos seus fiéis(que
representam o seu status social exibido orgulhosamente).Ficando diante dessa
realidade prática, sem sentido algum, depois de pregar o desapego às “coisas do
mundo”; toda a sua “filosofia altruísta”.
Já
no caso do altruísmo promovido por um agnóstico que não espera recompensa do
céu, embora também seja egoísta, porque espera recompensa na Terra, ao menos é
mais sincero ao se admitir que vivendo em sociedade, onde de alguma forma tudo
está conectado, que de qualquer forma sedo ou tarde o bem que faz retorna para
si. Embora neste caso esteja presente o “gene egoísta” ao menos não está
presente o cinismo baseado na moralidade judaico-cristã nem se espera
recompensas no céu, é uma preocupação social, administrativa , uma preocupação
material e portanto bem mais realista e não é cínica( no sentido literal pois
não prega o ascetismo e depois pede dízimo($$) nem cínica no sentido de
esconder seu egoísmo pois admite e compreende que o bem que faz a outrem cedo
ou tarde direta ou indiretamente voltará para si compreendendo as relações
sociais. Estou praticamente admitindo que qualquer forma de alturísmo, o
egoísmo está presente, mas que no caso do agnóstico não está ocultado no cinismo
ascetista, ele é explícito ele é ação administrativa,e materialista
reconhecido. Já no caso do altruísmo religioso provindo de uma concepção
fundamentalista o egoísmo está disfarçado na máscara social de uma moralidade ascetista
e de uma culpabilidade alicerçada no medo, e na espera egocêntrica de uma
recompensa sob a aprovação divina . Estamos
diante de duas ações egoístas: uma
explícita e sincera e uma mascarada, falsa.
Penso
que em vez de se fabricar campanhas para uma cultura do altruísmo para recompensar(mascarar)
a exclusão gerada pelo modo capitalista, seria bem mais produtivo a melhor
distribuição da riqueza,nunca vi um pastor dar seus bens a um mendigo, ao
contrário eles vivem uma vida opulenta e sem trabalhar, nunca vi um dono de grande fortuna aprovar um imposto sobre ela para ajudar o estado a ter mais uma ferramenta no combater a desigualdade, nunca vi campanhas eficientes para uma melhor distribuição dos
alimentos(a verdadeira causa da fome no mundo e não a falta de produção de
alimentos, também nunca vi um agro-industrial doar sua produção para aplacar a fome em
uma favela. Portanto não acredito no discurso altruísta. Não acredito em campanhas que tentam compensar e mascarar
as conseqüências do modo de vida capitalista, nem na tentativa dos porta vozes da elite global em desviar a atenção da massa ingênua ou emburrecida pela grande mídia e o sucateamento da educação, de que são as diferenças culturais os maiores causadores da exclusão, que embora estas últimas estejam presentes não são mais causadoras de exclusão do que o modo de produção capitalista e o seu mercado excludente, nem que é a falta de solidariedade ou a falta de altruísmo ou caridade o que causa as injustiças sociais tão simplesmente como um problema moral, mas é material, matemático, e perverso o capitalismo globalizante e o seu mercado excludente. É um verdadeiro disparate ouvir da boca de capitalistas transnacionais e de
fundamentalistas religiosos algo como igualdade, ambos defendem “filosofias” e modo de vida
excludentes, um produz os “hereges” e a excomunhão, o outro produz os
miseráveis e a exclusão.
Não
sou contra o altruísmo, propriamente dito,mas sou contra o cinismo sempre
presente nele. Sou contra fazer uso político do altruísmo. Sou contra fazer uso
do altruísmo para se promover o proselitismo religioso. Sou contra o uso do
altruísmo para mascarar uma vaidade e diminuir uma culpabilidade.Sou contra o
altruísmo cínico dos que pregam o ascetismo e na prática se banham nas delícias
do materialismo do mundo capitalista justificando seus deleites como
“prosperidade sagrada ou divina”(sirvo ao deus então ele me concede a
prosperidade livre da ganância)como se houvesse um modo de acumular riqueza sem
prejudicar alguém o que revela que ou se aliena e ignora que se vive no modo
capitalista ou se acovarda conscientemente.
Se eu considerasse realmente os benefícios do altruísmo, como eficientes eu preferiria o administrativo(vivo conectado
aos demais pelos laços sócio-econômicos e culturais por isso tudo o que faço de
bom me atinge cedo ou tarde direta ou indiretamente) considerando o contrário
também, e sem o cinismo* ascetista reconhecendo
que é bom viver e compartilhar do que produzimos de melhor em nossa sociedade
que deve se tornar cada vez mais humanizada e menos excludente, mas que nunca
deixará de ser egoísta porque o egoísmo é também parte da natureza humana. Mas
um altruísmo assim seria silencioso, interior,oculto, sem identidade, sem uma
bandeira, mas então, na nossa sociedade capitalista ele não serviria como propaganda. Deveríamos
nos concentrar em sermos mais realistas e gerenciar melhor o egoísmo que sempre
caminhará conosco e reconhecendo seus limites, seus momentos de menor ou maior
atuação. Empunhar uma autonomia no sentido de ser consciente do momento ideal
em se ter de afirmar um interesse pessoal, e outros momentos em que seria mais
eficiente abrir mão dele para um benefício coletivo, sempre reconhecendo sua
presença participativa nas duas escolhas, exige muito conhecimento do
funcionamento de uma vida em sociedade e consciência ou percepção de si .
Importante buscar essa autonomia, essa responsabilidade de si em si, para que
ela não se torne instrumento dos interesses
das instituições. Sendo este um caminho pessoal rumo a uma autonomia e
não um instrumento para se fazer política ou proselitismo religioso. A
linguagem altruísta não cabe na “boca” de instituições fundamentalistas nem na
“boca” de partidos políticos, muito menos na boca de capitalistas. O problema é que, a maioria das instituições
políticas e religiosas fazem uso do altruísmo biológico** dando a ele outro
significado e sempre em forma de espetáculo.
Nem
tanto se concentrar no negativismo nem tanto se concentrar no positivismo,
ambos extremos nos dão uma visão parcial da realidade, e talvez o altruísmo
seja uma ferramenta de controle ou de gerenciamento do egoísmo, mas totalmente
falível no seu extermínio. Talvez o altruísmo ideal, se é que é possível tal
coisa, não seja de fato aquele que prega o ascetismo e tenta negar o egoísmo,
mas aquele que se esforça em melhor gerenciar o egoísmo inerente à natureza
humana, pois a natureza parece ser bem mais sábia que deus e os homens pois
lhes parece loucura.
Embora
eu ainda não consiga ver realmente um modelo eficiente de altruísmo na
sociedade humana, o considero por hora uma utopia. Digo isso porque ainda não vi um modelo de
altruísmo que não fosse alguma propaganda, uma máscara social em busca de
benefícios políticos, ou de recompensas do céu ou da Terra.
Mas
vale reconhecer que a maior utopia humana é aquela que deseja um mundo perfeito
e justo, igualitário e embora saibamos que isso nunca será possível, porque não
é possível admirar uma ditadura que iguala a todos no pensamento e nos atos devemos
por algum momento nos enganarmos, e aceitarmos esse paradoxo, caso contrário nem faria sentido sairmos de
nossas camas, o que não quer dizer que devemos deixar que outros se apropiem
desse engano nos conduzindo como rebanhos ao matadouro ou nos transformem em
“bodes expiatórios” ou mártires de suas causas(principalmente religiões e
partidos políticos) geralmente unidos em prol dos interesses de uma elite financeira, nos transformando em
seus serviçais ou escudos de guerra.
Márcia
Zaros
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* - ascese (do grego ἄσκησις, derivado di ἀσκέω, “exercitar”)
consiste na prática da renúncia do prazer ou mesmo a
não satisfação de algumas necessidades primárias, com o fim de atingir
determinados fins espirituais.
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